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História Homenagem

Iraci Tenório Lins

Atalaiense, foi prefeito de Anadia e de Maribondo.

04/04/2022 às 19h28 Atualizada em 07/04/2022 às 20h46
Por: Phablo Monteiro
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Iraci Tenório Lins é neto do ex-Intendente de Atalaia, o Coronel João Evangelista.
Iraci Tenório Lins é neto do ex-Intendente de Atalaia, o Coronel João Evangelista.

De família atalaiense tradicional, Iraci Tenório Lins nasceu no município de Atalaia em 4 de julho do ano de 1909. Filho de um relacionamento anterior ao casamento de seu pai, o ex-vereador Luiz Tenório de Albuquerque Lins, com Maria José da Soledade. 

É sobrinho do ex-prefeito de Atalaia, o Major José Tenório, do industrial da usina Ouricuri, Manoel Tenório e da primeira vereadora no estado de Alagoas, Maria Tenório. Primo dos ex-senadores Nelson Tenório e João Tenório, e do ex-vereador de Atalaia, Nestor Tenório.

Até completar seus 5 anos de idade, residiu no Engenho Estrela, sendo criado por seus avós paternos, o Coronel João Evangelista da Costa Tenório, ex-Intendente de Atalaia (1910-1912) e a senhora Ana de Mello Lins.   

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Após o casamento de Luiz Tenório com Eudócia Sabino de Oliveira, Iraci Tenório vai residir com seu pai na Fazenda São Luiz, próxima a Usina Ouricuri, sendo adotado como filho por Eudócia, que não podia ter filhos. 

Sua mãe adotiva é irmã do ex-vereador de Atalaia, José Sabino de Oliveira Filho. E, é pela filha mais velha deste tradicional político atalaiense, a senhorita Honorina Lopes de Oliveira, que Iraci Tenório se apaixona e se casa em cerimônia realizada na Fazenda Triumpho, propriedade de seu tio/sogro no município de Atalaia, em 6 de julho de 1928. Por coincidência, sua esposa também foi adotada.

Desse matrimônio nascem: Iêda, Lygia, Humberto, Stênio, Miracy, Yara, Nazareth e José Luiz. Em Atalaia, a família residia na Fazenda São Luiz. 

“A emoção é tanta que me fogem as palavras para falar do meu pai. Para mim, foi o melhor pai do mundo, não existe outro igual. Muito honesto, muito brincalhão. Amava seus filhos e netos. Amava a família toda”, lembra emocionada sua filha Nazareth. 

Iraci Tenório é bisavô dos ex-deputados estaduais por Alagoas, Dudu Hollanda e Júnior Hollanda, e também do atual vereador por Maceió, Fernando Hollanda. 

Tendo herdado de seu pai o Engenho Camarão, propriedade localizada no município de Maribondo, passa a residir lá com sua família. 

Foi nesse ambiente acolhedor do Engenho/Fazenda Camarão, sempre próximo de seus familiares e amigos, que Iraci Tenório e Dona Honorina também tiveram participação direta na criação dos netos Flavio, Mara, José Tenório, Luis Tenório, Deise, Carlos Augusto e Vera.   

“Era uma apaixonado pelo futebol, folclore e por nossas tradições culturais. Com esses requisitos e a aproximação com o povo e com a política, logo brotou a sua liderança e a eleição para prefeito de Anadia”, destaca o historiador Sabino Fidelis de Moura, no artigo “Eles, artífices - em Anadia”, publicado em comemoração aos 219 anos de Anadia.

Exerceu seu mandato de 1951 a 1955. “Um mandato sereno, pacífico e com notoriedade para os eventos esportivos, festivos e de muita empolgação... Não tinha a Prefeitura as receitas com as transferências de hoje existentes, era tudo no suor, no peito e na raça, nas emendas parlamentares — e até mesmo, da benevolência dos mais abastados financeiramente. Seu Iraci Tenório deixou sua marca indelével, como um dos mais queridos mandatários da nossa terra”, comenta em seu artigo, Sabino Fidelis de Moura.

Sabino nos conta em seu artigo, que tamanha foi a notoriedade da administração de Iraci Tenório Lins, que ele foi escolhido para administrar o recém criado município de Maribondo.

“Teve tanta repercussão sua passagem conduzindo os destinos de nossa terra amada — que, quando Maribondo foi desmembrada de Anadia e tornou-se cidade, — Foi Iraci Tenório o seu primeiro prefeito, exercendo de forma temporária o mandato de 24 de Agosto de 1962 a 31 de Janeiro de 1963”. 

“Anadia tem muita honra em constar nas páginas da sua história, um personagem de tamanha grandeza pública”, completa Sabino Fidelis de Moura.

Em seu Engenho/Fazenda Camarão, Iraci Tenório Lins faleceu no dia 31 de março de 1982, aos 73 anos de idade. Homem íntegro e honesto, que deixou sua marca, seus ensinamentos e um grande sentimento de saudade em todos os familiares e amigos que tiveram o privilégio de privar de sua convivência.  

"Meu avô Iraci era um homem generoso que valorizava as pessoas. Gostava de estar acompanhado. Tinha prazer em receber em casa a família, amigos e conhecidos. O Engenho Camarão é um lugar que marcou muito a minha infância. Gostava muito de festa e futebol. Investiu e apoiou o CSA, clube de futebol de Alagoas, quando ninguém dava valor e o esporte ainda era muito descriminado. Foi um grande empreendedor e a ele dedico muito carinho e respeito. Minha avó Honorina marcou profundamente a minha personalidade. Mulher de muita coragem e fé. Os dois faziam do Engenho Camarão um pedacinho do paraíso", comenta sua neta Eliane Tenório.

Sua neta Vera Maria Tenório, também lembra com carinho de um avô generoso. "Ensinava que devíamos ter respeito a todos. Seja do mais rico ao menor. Nos ensinava que cada morador da Fazenda era digno do nosso respeito e o mais bonito nele é que para ele, todos os filhos e netos tinham o mesmo valor. Jamais existirá um Senhor Iraci Tenório. Muitas saudades dele. Ele foi único! Aquele que eu chamava de pai. Ele que foi meu avô, meu pai, minha mãe e minha avó. Ele que foi tudo. Inesquecível!", comenta.

Para sua neta Mônica Tenório, foram muitas as qualidades presentes em seu avô. “Acessível, carismático, amigo, um pai e avô amoroso. Muito festivo e um torcedor ardoroso do Centro Sportivo Alagoano. Casado com uma mulher trabalhadora, honesta, com uma fé católica fervorosa e uma personalidade forte, com quem teve oito filhos. O que temos mais forte em sua lembrança é aquela pessoa presente, que gostava de ter sua casa cheia. Todas as festas, tinha que tá a casa cheia e a família completa. Uma pessoa muito familiar”. 

Em Maribondo, foi homenageado com seu nome sendo colocado em um logradouro público no centro da cidade e em uma praça pública. 

 

Engenho Camarão – Por Eliane Tenório

O Engenho Camarão fica mais perto do céu. Subindo pela estradinha íngreme da Serra Grande, um dos acessos ao velho engenho, percorríamos um longo caminho de terra batida ferido pelas fundas valas esculpidas pelas chuvas de inverno, que dificultavam mais ainda a chegada a esse paraíso.  Mas o prazer de se encantar com as paisagens fazia valer a pena a aventura.

Sob um céu azul turquesa, modelado por nuvenzinhas brancas que mais pareciam carneirinhos, viajava pela estrada todo o tempo em companhia da matinha atlântica que contrastava com o solo avermelhado da terra rochosa. Era assim, uma gostosa viagem que apenas alguns se atreviam a fazer para realizar o prazer de desfrutar da companhia e das conversas de fim de tarde como o generoso vovô Iraci Tenório.

À noite no Camarão, embaixo de alvíssimos lençóis, boa parte do sono era comprometida pelo medo de fantasmas e a ouvir o gargalhar das corujas nas noites sem luar.

As manhãs e tardes passavam rápidas no Camarão, que recebeu esse nome por abrigar, no rio que cortava seus vales verdejantes em meio às colinas, uma imensa quantia de camarões, além de peixes e pitus.  Corrente d'água que deslizava borbulhando entre as pedras e ganhava força nas pequenas cachoeiras formadas ao longo do percurso.

De manhã nas campineiras a vaca malhada com seu sino a badalar acordando a meninada, enquanto o sol se levantava preguiçosamente por entre os pequenos montes. E a meninada acorrer pelo caminho disposta a desvendar as fantasias da infância. De vez em quando despontavam casinhas branquinhas de cal enfeitadas por beijos coloridos. Era o capricho das mãos das caboclas, mulheres simples e de grande coragem.

Os banhos de bica, as reinações e brincadeiras de esconde esconde, pula corda e outras. Um carro de boi aposentado no quintal. Um  carro de boi e dois velhos bois  de carro aposentados. 

Mangueiras, jaqueiras, goiabeiras, laranjeiras. O banheiro era atrás do casarão, lá embaixo da ladeira, acompanhado do medo de cair nos cacimbões. Os paióis, as galinhas e um pé de espirradeira no quintal e minha avó Honorina no domínio do casarão bem cuidado. Mobília cor de ébano, cristaleiras  intocáveis, cômodas, a cadeira de balanço do vovô e a mesa cheia das comidinhas gostosas da Santana.

Hora de lembrar, de estar sempre com Deus. A capelinha em frente à casa grande e um abençoado " Deus te faça feliz. E fez e faz. Meu avô Iraci gostava dos bons discursos, era um poeta. Usava chapéu e descansava na cadeira de balanço na sala. Vestida de branco, minha avó cumpria seu cotidiano entre fazer, ordenar e fiscalizar as tarefas domésticas.

Casa Grande do Engenho Camarão, propriedade que pertenceu a Iraci Tenório Lins e Honorina Lopes de Oliveira. 

* Com informações do artigo Eles, artífices — em Anadia, de Sabino Fidelis de Moura e de depoimentos da Família.

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