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Cultura Opinião

Artigo I Restauração da Maria Fumaça da extinta Usina Brasileiro. Por: Professor Ezio Lima

“Um povo que não conhece, não preserva e não valoriza seu patrimônio cultural é um povo sem alma e sem sentido”, destaca Professor Ezio Lima.

31/10/2021 às 13h02 Atualizada em 03/11/2021 às 19h30
Por: Phablo Monteiro Fonte: Foto: Divulgação
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Maria Fumaça da extinta Usina Brasileiro, em Atalaia.
Maria Fumaça da extinta Usina Brasileiro, em Atalaia.

A valorização do passado das cidades é uma característica comum às sociedades neste início de milênio. A meu ver essa tendência reflete uma mudança significativa nos valores e atitudes sociais até agora predominantes. Depois de um longo período em que só se cultivava o que era novo. 

A valorização do passado, ou do que sobrou dele na paisagem se dá hoje de forma generalizada no mundo atual. Há algum tempo, em conversa com um amigo atalaiense eu lhe dizia da falta de conhecimento das pessoas de nossa Atalaia a respeito de sua cultura e ele me respondeu: -“É verdade Professor Ezio, nossa terrinha cada vez mais com menos cultura”. Atrevi-me a rabiscar a respeito.

A educação e a cultura estão intimamente ligadas, tanto que estes dois aspectos da sociedade encontram-se no mesmo capítulo da nossa Constituição Federal.

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Consagrado como direito de todos e um dever do Estado, a educação deve ser promovida e incentivada com colaboração da sociedade: quanto maior o grau de cultura de um povo, maior valor será reconhecido ao seu patrimônio cultural, dai porque a interligação entre uma e outra.

Toda cidade tem sua vocação. No entanto para se chegar a este stato, existe a necessidade de ela delimitar-se num local específico no espaço e ter uma conduta histórica que a leve a ter a sua marca registrada.

Somente o conjunto de vivências geográficas e históricas de um povo é capaz de lhe determinar sua identidade. Povo sem história e cultura é povo sem passado e sem identidade. O que não é o caso de Atalaia – que tem passado tem história, identidade e tem cultura.

Nosso povo, nossos professores de História, nem mesmo nossos administradores ainda não se conscientizaram de que Atalaia é um município histórico, haja vista sua participação e razão de existência na luta do Quilombo dos Palmares. Observe-se, e é de se lamentar que quando das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, apenas se fala em União dos Palmares. 

Nossos legisladores têm grandes responsabilidades como deve se portar uma cidade. De suas ações ou omissões é que redunda a identidade forjada em leis e regulamentos e mesmo nos costumes que devem ser respeitados ainda que se sacrifiquem leis inócuas. Isso porque, desta forma, prevalece a vontade popular, fruto legítimo da democracia em que vivemos, para que fique patente e fundamentado nos mais legítimos alicerces documentais a nossa identidade como cidade, que completou mais de 250 anos.

Um povo que não conhece, não preserva e não valoriza seu patrimônio cultural é um povo sem alma e sem sentido. 

A cultura não nasce de uma iluminação a partir do acaso, mas de uma necessidade intrínseca de expressão e comunicação do homem, no espaço onde vive e convive com outros homens. No mundo contemporâneo, a cultura acha-se, cada vez mais, enraizada em uma base territorial, com suas diversidades e identidades peculiares. 

O patrimônio cultural do município, especialmente no que se refere aos costumes, hábitos, maneiras de ser, enfim, tudo aquilo que forma a identidade cultural das comunidades atalaienses, constitui-se num dos principais potenciais turísticos do município.   

Acredita-se que este grande diferencial pode ser trabalhado por meio da revitalização cultural que constitui um recurso importante, embora relativamente negligenciado até então.

A revitalização cultural tem a capacidade de ajudar a recuperar a memória e a identidade locais, de sensibilizar a comunidade para seus valores culturais, despertando seu orgulho étnico. Conservando e revitalizando a cultura, promove-se o desenvolvimento turístico e abre-se uma nova frente de oportunidade econômica e social.   

Entretanto, é importante salientar que a revitalização cultural não pode resolver todos os problemas, econômicos e sociais, mas pode funcionar como um elemento chave na conservação da identidade cultural atalaiense e na construção do turismo local. 

Nesses últimos dias o passado me presenteia... Reconhecemos, a bela iniciativa da gestora municipal em restaurar uma pequena locomotiva da extinta Usina Brasileiro como patrimônio material.

Recordações, lembranças, fotografias, Anos de história que cabem em uma única caixinha de papelão chamada coração.

Esse presente do passado acendeu as lembranças de histórias que ouvi de familiares de minha esposa, que viveram os áureos tempos da extinta Usina Brasileiro e que agora ressurgem como a Fênix da mitologia grega.

A nossa Lei Orgânica dota o município de mecanismos para a conservação de seu patrimônio histórico/cultural, (artigos 171 a 174 da Lei Orgânica do Município), haja vista a ideia e ação legislativa em relação ao que restou da Usina Brasileiro, a 1ª de Alagoas e a mais avançada para seu tempo, transformando-a no Parque Maria Fumaça.

Por que não temos uma Secretaria de Cultura atuante? Não se precisa de muita coisa para fazê-la funcionar. O mais importante é vontade de pesquisa, de trabalho e de dotar nossa terra de um instrumento que quase todos os municípios alagoanos têm, mesmo aqueles que nada possuem de caráter histórico-cultural.

Em nossa Atalaia ainda há pessoas que desconhecem sua história e o que há de se conhecer como, por exemplo: a Usina Brasileiro, o Santuário Ecológico de Santa Tereza, a ponte dos gringos, a Usina Vitória, a Serra da Naceia, a Gruta da Moça na Usina Uruba, o beco do Caiambu, o Apertar da hora, a Pedra do sangue e a Cachoeira dos ossos.

O turismo cultural é uma atividade turística relacionada à vivência com o patrimônio histórico cultural, com os eventos culturais valorizando  e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura de um povo tudo que conte a história do lugar. Aqui no Brasil, esse tipo de turismo acontece com frequência em cidades históricas como Ouro Preto e Olinda.

Que se acorde a Secretaria de Cultura!

*Ezio Lima do Nascimento é professor doutor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

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