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Cultura Dia da Poesia

Os poemas do Professor Genário Cardoso de Farias

São oito poesias que ajudam compreender um pouco a obra literária do educador, ex-prefeito e ex-vereador de Atalaia.

21/03/2021 às 09h12 Atualizada em 24/03/2021 às 19h20
Por: Phablo Monteiro
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Professor Genário Cardoso de Farias foi prefeito de Atalaia na década de 40.
Professor Genário Cardoso de Farias foi prefeito de Atalaia na década de 40.

Para marcar o Dia Mundial da Poesia, dia 21 de março, o site Atalaia Pop reúne oito poemas do professor Genário Cardoso de Farias, grande educador, que também foi vereador e ex-prefeito do município nas décadas de 40-50.

Sua obra literária, carregada de religiosidade e romantismo, ou até mesmo destacando um grande acontecimento daquela época, evidencia o tamanho do conhecimento da língua portuguesa do Professor Genário, um dos filhos mais  ilustres de Atalaia. 

Foi proprietário do colégio “Ateneu Atalaiense”, fundado por ele em 1950, localizado na Rua Floriano Peixoto, onde estudaram gerações de alunos não só de Atalaia, mas também de Capela e Viçosa, inclusive no regime de internato. Gostava de escrever poemas e ensinar as pessoas a ler e escrever.

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Professor Genário era um mestre, um homem culto, de educação finíssima, sendo descrito pelo advogado Getúlio Pereira Leite como um “espadachim da língua portuguesa”, ou seja, nas suas lutas, nos seus embates políticos, não havia espaço para a força, mas sim para o seu grande poder de oratória e convencimento. 

Infelizmente, partiu muito cedo, com apenas 49 anos de idade. Muito ainda teria contribuído para Atalaia, seja na política, seja na literatura, ou apenas como um atalaiense que era apaixonado por esta terra.

Existem muitos outros poemas do Professor Genário que ainda continuam inéditos, mas que em breve certamente serão divulgados para referenciar mais uma vez a sua importante obra literária, seu presente para a eternidade.

CLIQUE AQUI e conheça a sua biografia.

 

GOGÓ DA EMA

Ao Jucá

 

“Li e reli o teu GOGÓ DA EMA

Muito gostei! E sem bajulação

Eu te afirmo Jucá, de coração,

Se o título agradou, melhor o tema!

 

Tortuoso GOGÓ, dádiva suprema,

Revestisse o Jucá de inspiração

E ele, com a maior dedicação,

Transformou PONTA VERDE em um poema...

 

Canta poeta – a tua lira é moça!

Não falta quem te aclame e quem te ouça...

A mocidade é pródiga de encantos!

 

Canta também pela tristeza alheia...

Porque, ao resplendor da lua cheia,

GOGÓ DA EMA exaltará seus cantos!

 

Genário Cardoso de Farias – Atalaia – Alagoas

 

A CRUZ DO TERÇO DELA

 

Defronte a sua casa, a conversar

Pedi me desse uma lembrança sua

E contemplando a face branca e nua

Do Céu, ela me disse eu vou buscar.

 

E foi, a passo e passo, devagar,

Toda medrosa, e atravessou a rua

E eu fiquei sozinho a contemplar

O seu perfil de santa, à luz da lua.

 

Voltou. E ao chegar disse baixinho:

- Toma, é seu, guarde com carinho,

É tudo quanto o nosso amor revela.

 

Recebi e guardei dentro da mão,

Num gesto de mais pura devoção,

Pensando em Deus – a cruz do terço dela.

 

Genário Cardoso de Farias – Atalaia – Alagoas

 

A VIDA SEM TEU AMOR

É UM MARTÍRIO TERRÍVEL...

HAVENDO PERSEVERABÇA

TUDO NO MUNDO É POSSÍVEL...

 

És tu sincera criatura

A Deusa do meu encanto,

Embora vivas em pranto

Neta vida de tortura...

Pois, a tua imagem pura

Tem a pureza da flor,

Pelo teu casto primor

Ornado de gentileza

Para mim não tem beleza

“A VIDA SEM TEU AMOR”

 

És linda como açucena

No desabrochar d’aurora

Meu peito soluça e chora

Por ti, oh virgem serena...

Porém o destino ordena...

Com a sua força excessível

Que não acha admissível

Eu viver sem ti Lily

Por que a vida ausente de ti

É UM MARTÍRIO TERRÍVEL

 

Esperai anjo querido!

Que um dia há de chegar

A hora de eu te pagar

O teu amor precarido...

Se por Deus for permitido

- Quem espera sempre alcança.

Nos braços da esperança

Onde está nosso futuro,

Nosso amor será perduro

“HAVENDO PERSEVERANÇA”

 

Confia no Supremo

Vive sempre sossegado

Trazendo sempre guardado

O triunfo do extremo...

Contra a sorte eu não blasfemo

Por ser um ato impossível

Adorar-te assim ausente,

Porque a vida não mente

“TUDO NO MUNDO É POSSÍVEL”

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia – Alagoas – 24/04/1927

 

14 DE OUTUBRO

 

“Eis a data sublime em que eu nasci,

Que nos anais da vida registrei!

Uma data que sempre exaltarei

Pelas horas felizes que vivi...

 

Não sei se mais gozei, se mais sofri,

Não sei se mais sofri, se mais gozei!

Ou sofrendo ou gozando, eu só bem sei

De haver nascido não me arrependi

 

Quadragésima sexta primavera,

Tão pobre e desprovida de quimera,

Que me faz pressentir grande desgosto!

 

Mais um ano de vida vou vivendo

Embora pouco a pouco envelhecendo,

E as brancas rugas me franzindo o rosto!

 

Atalaia, 14 de outubro de 1952.

Genário Cardoso de Farias

 

GRATIDÃO

 

Deste-me em noite aquela, a cruz divida e santa

Do teu divino terço, ó filha de Maria!

Como viva expressão do amor que nos encanta

As medrosas paixões de sua profecia!

 

Não pude agradecer aquela sacrossanta

Revelação de amor, a mim, naquele dia...

O que tinha a dizer morreu-me na garganta

Em êxtases febris de suprema alegria.

 

Com a alma a transbordar num mar de encantamento,

Eu fiz, olhando os céus, um santo juramento

Nunca mais esquecer a tua linda cruz...

 

E para comprovar-lhe a minha gratidão,

Procurei transformar meu pobre coração

Num sacrário de amor e em suas mãos depus.

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia – Alagoas

 

SER FREIRA 

    

Ser freira é viver livre do pecado

Que nos arrasta a todo sofrimento,

Rezando a vida inteira num convento

Com um rosário na mão, dependurado;

 

Ser freira é ter Jesus sempre guardado

Em si – em Pão, em Vinho, em pensamento...

E debaixo de um santo juramento

Esquecer este mundo desgraçado!

 

Ser freira é ser do céu, sendo da Terra;

É ser santificada, sendo humana,

E a tudo que é divino fazer jus.

 

E os bens que coração de freira encerra

São bens que só a lei de Deus dimana;

Ser freira é ser escreva de Jesus.

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia – AL, 1950.

 

SER PADRE

 

Ser padre é ser ministro do Senhor,

Nosso Pai, que sofreu cruéis horrores

Para salvar os homens, pecadores,

Das provações aspérrimas da dor...

 

Ser padre é ser de Pedro sucessor

Para cantar da Igreja os seus primores

E defender dos tristes dissabores

As ovelhas do Pai como Pastor.

 

E quando as línguas más, desenfreadas,

Aos ministros de Deus jogam piadas...

Eu fico revoltado, eu me contristo

 

Porque vejo num padre um penitente

Que sofre e que padece pela gente

Para cumprir as leis de Jesus Cristo!

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia, Al, 1950.

 

GETÚLIO MORREU!

Às classes operárias brasileiras.

 

Morreu Getúlio Vargas – a Bandeira

Que muito tremulou por nossa gente,

À frente do Catete, e Presidente

Dos destinos da Pátria Brasileira!

 

Que miséria! Foi grande a bandalheira

Que levou a Nação a tão premente

Estado de revolta intransigente

Que podemos dizer – foi a primeira

 

Resolução com que um brasileiro,

Da estirpe de Getúlio, um verdadeiro

Democrata, sincero e varonil

 

Num gesto de repulsa à ingratidão...

Decidiu atirar no coração

Para não ver a desgraça do Brasil.

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia, AL, 24 de agosto de 1954.

 

COQUEIRO SECO

Ao Manoel Cícero do Nascimento, dileto filho daquele recanto praiano.

 

Numa tarde sublime e esplenderosa

Em que se festeja a Padroeira...

Fui a Coqueiro Seco, na carreira,

Fazer-lhe uma visita curiosa...

 

Gostei muito de tudo, até da prosa

Daquela gente boa, hospitaleira

E naquela lagoa feiticeira

Mergulhei a minh’alma prazeirosa.

 

E por margem afora caminhando,

Como que se estivesse procurando

Alguma Ninfa por ali, atoa...

 

Surpresa... Volto e dirijo-me ao TEMPLO

E da mais alta janela contemplo

Dois corações boiando na lagoa!

 

Genário Cardoso de Farias

Atalaia, AL, Janeiro de 1953

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