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A cultura canaviera em Atalaia - Apogeu e Decadência

Por: Carlos Tibúrcio de Araújo Abreu

10/08/2018 às 21h09
Por: Phablo Monteiro
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Ruínas da Usina Brasileiro
Ruínas da Usina Brasileiro

Conforme Cavalcante (1980), pouco tempo depois de iniciada a povoação em Atalaia, no ano de 1694, as matas existentes nos arredores foram sendo derrubadas, a princípio, para a exploração da madeira, posteriormente para dar lugar à agricultura. Uma série de fatores naturais contribuiu para o surgimento da agricultura em Atalaia, como a existência de solos férteis e planos, e enorme potencial hídrico. A princípio predominou a policultura; as principais culturas eram o feijão, inhame, batata-doce, mandioca e milho, voltadas para o consumo dos primeiros habitantes.

Em meados do século XVII, a cana-de-açúcar foi introduzida no município; não se sabe ao certo por quem. A princípio, a cana conviveu em harmonia com as demais culturas agrícolas, mas no fim do século XVII e início do XVIII, começou seu domínio imperial, suplantando as demais culturas.

Com o desenvolvimento da cultura canavieira, surgiram em Atalaia os primeiros engenhos bangüês. Não se sabe qual foi o primeiro engenho a surgir no município, e nem a data de fundação de uma boa parte deles. O que se sabe ao certo é que havia em Atalaia 30 engenhos no ano de 1854, número que caiu para 26 em 1859, e elevou-se para 60 até o ano de 1870. Todos eram movidos por tração animal (bois ou cavalos) e não tinham alta produtividade, não ultrapassando os 3.000 pães de açúcar por ano (cada pão equivalia 25 quilos) (CAVALCANTE, 1980).

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No final do século XIX, os engenhos centrais evoluíram para as modernas usinas. Foi em Atalaia que, em 1882, surgiu a primeira usina açucareira alagoana, a Usina Brasileiro, de propriedade do empresário francês Félix Gustavo de Wandesmeth, o Barão de Wandesmeth, primeiro a usar no estado irrigação nos canaviais, através de motores movidos a lenha, e de novas variedades de cana como a Demerara, Barbados e White Transparent (ANDRADE, 1986).

A usina ficava localizada a menos de dez quilômetros da cidade de Atalaia, já próximo da fronteira com Pilar. No ano de sua fundação, a moagem contabilizou 4.000 sacas de açúcar, número que chegou a mais de 300.000 duas décadas depois. O açúcar ia de trem (pertencente à própria usina) até o município vizinho de Pilar, de onde seguia em embarcações lacustres até o Porto de Jaraguá, em Maceió, para daí ser embarcado para o exterior. A Brasileiro progrediu tanto que durante muitos anos foi considerada uma das dez usinas de maior produtividade no Brasil.

Após a morte do Barão Félix, em 1932, a Usina Brasileiro passou a ser administrada por Paulo Decaport e pelo engenheiro Oscar Bernard, dono da Usina Rio Branco, situada no povoado Estrada Branca, em Atalaia. Em 1941, passou para o controle acionário do Grupo Celso e Carlos Piat, não safrejando nenhuma vez nas mãos desse grupo, devido a ‘herança’ de dívidas em nome da usina feitas pelos antigos donos com o Banco do Brasil. Assim, nos anos 1960, as propriedades da Brasileiro são dadas ao banco, pela justiça, como pagamento das dívidas.

A segunda usina a surgir em Atalaia foi a Usina Uruba, no ano de 1906. Essa usina foi uma evolução do engenho Uruba, da família Peixoto, seus primeiros donos. Foi a sexta usina a surgir em Alagoas (CARVALHO, 2001). Anos depois de sua fundação foi vendida para a família Gondim, que ficou com seu controle até a década de 1970, quando foi vendida ao Grupo João Lyra, seu dono até hoje. É a única usina ainda em funcionamento no município de Atalaia.

A terceira usina a surgir em Atalaia foi a Ouricuri, no ano de 1920, pertencente a Manoel Tenório de Albuquerque Lins, que transformou seu pequeno engenho em usina – a segunda maior de Atalaia após o fechamento da Usina Brasileiro.

Com essa mudança, passa a produzir açúcar centrifugado, de maior rentabilidade. Em 1964, passa a presidência do Dr. Nélson Tenório de Oliveira, sofrendo reformas em sua maquinaria, aumentando significativamente sua produção. Paralisa suas atividades no início da década de 1990 por falta de tecnologias que barateassem e aumentassem a produção, e também melhorasse a qualidade do açúcar produzido. Para a falência da Ouricuri também contribuiu uma disputa interna dos acionaistas (ambos pertenciam a mesma família). Alves Filho (2006, p. 13) diz que “a usina Ouricuri teve suas atividades encerradas, em virtude, principalmente, de administrações desastrosas e inconseqüentes”.

Observa Cavalcante (1980) que não há referências quanto as datas de fundação, mas é certo que outras três usinas existiram em Atalaia: Usina Rio Branco, pertencente a Oscar Bernard, Usina São José, de propriedade de Albino Tenório de Albuquerque Lins, e Usina Vitória do Cacau, do Major Sabino da Silva Morais. As três não sobreviveram por mais de dez anos cada. A Usina Rio Branco parou suas atividades em 1932, no mesmo ano em que seu dono comprou a Usina Brasileiro. A Usina São José não moeu por mais de seis safras, pois foi incorporada à Usina Ouricuri, já que seus donos eram irmãos. Já a Usina Vitória do Cacau funcionou por apenas três safras, já que a morte de seu dono ocasionou uma batalha familiar entre os herdeiros, o que só chegou ao fim com a divisão das terras da usina nos anos seguintes. Se não fosse isso, estima-se que seria uma das usinas mais prósperas de Atalaia, já que durante suas atividades a produção não parava de crescer. Chega o município de Atalaia no século XXI com apenas uma, das seis usinas que aqui surgiram: a Usina Uruba, uma das mais modernas e produtivas do estado.

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